O Design e a Criança

Casa particular em Cascais. Ilustração de Helena Ladeiro

 

A criança é uma pessoa em formação. O ambiente e as relações com os adultos determinam o seu crescimento, originando uma criança ativa, curiosa e auto-suficiente ou um ser tímido,inseguro, incapaz de tomar as suas próprias decisões. Piaget substituiu a imagem tradicional da criança como receptor passivo moldado por forças externas, pela imagem de um sujeito que desde a nascença procura ativamente estímulos, interpretando o mundo e elaborando situações criativas.

Casa particular em Cascais. Ilustração de Helena Ladeiro

 

Por conseguinte a criança não deveria ser entendida somente como um consumidor passivo, mas como um verdadeiro protagonista do seu espaço, dos seus objetos, das cores e dos seus brinquedos. Quais são então esses espaços? Espaços frequentados por crianças existem um pouco por todo o lado, contudo poucos estão projetados e construídos de modo a poder acolhê-las.
Quando pensamos em crianças e nos seus ambientes, pensamos essencialmente em escolas e creches, mas as crianças também frequentam os jardins públicos, as grandes superfícies comerciais, os cinemas, teatros… a própria casa.

Exposição ME TOO. Design de Nuno Ladeiro

 

Os adultos esquecem-se muito depressa da infância, e com ela as sensações, as necessidades, a fantasia e as dificuldades que enfrentavam quando eram crianças. Talvez por isso, observando os espaços, as casas e os objetos que colocamos à disposição das nossas crianças se constate a nossa inadequação custando muitas vezes a liberdade, a possibilidade de independência no crescimento ou a própria vida. Muitos acidentes acontecem perto da casa onde vivem.
Que soluções encontrar? Talvez o mais razoável seja sensibilizar o Estado, os Municípios, os arquitetos, os designers, as industrias e naturalmente os educadores, pedagogos e pais.

Exposição Me Too. Design de Nuno Ladeiro

 

Começando pelo urbanismo, poder-se-iam projetar percursos mais fáceis e bem sinalizados através da cidade e dos seus bairros evitando aos mais pequenos, situações e verdadeiros labirintos. Também seria importante a criação de espaços lúdicos tanto ao ar livre como em áreas cobertas. Espaços para assistir a espectáculos, para estudar música, botânica, ler, pintar ou simplesmente pontos de encontro. Poderiam ser criados pequenos refúgios no interior dos hospitais, nos hipermercados e grandes condomínios residenciais, onde a criança encontraria mais segurança.

O Jardim Escola

A escola não é só um espaço frequentado por crianças mas essencialmente um espaço delas. Muitas vezes a escola, desde o seu espaço exterior ao interior, passando pelas salas de aula e os seu móveis, parece mais um lugar para adultos de pequena estatura que para crianças. O esquecimento de alguns requisitos importantes como: o assoalhamento, a orientação, a iluminação, os serviços higiénicos, a formada cadeira e da mesa, bem como todo e qualquer tipo de materiais escolares, leva-nos a pensar que a projectação das escolas parou no tempo.

Creche em Loulé. Arquiteto Luís Guerreiro

 

Imaginemos que antes de entrar no edifício, já ali no pátio encontrávamos uma estrutura complexa para jogos de movimento, de maneira a estimular a autonomia, a ousadia, a coordenação e consciência das próprias capacidades, uma outra estrutura para jogos com água, um percurso com obstáculos ou muros para escalar cheia de verdes e flores, por exemplo…
À medida que nos aproximamos do interior constatamos a importância das áreas comuns, corredores, espaços de lazer, casas-de-banho, refeitório até ao local uterino que é a sala de aula.

Creche em Loulé. Arquiteto Luís Guerreiro

 

As crianças passam muitas horas na escola, na maioria dos casos grande parte do seu tempo, e principalmente na sala de aula, convivendo com o mobiliário e o mais diverso material escolar muitas vezes antiquado e inadequado. Os materiais didácticos desde os objectos ao mobiliário deveriam ser projectados de modo a permitir à criança, exercitar o seu espírito criativo, intervindo no ambiente de forma autónoma, fornecendo uma variedade de possibilidades, transformando o espaço num lugar dinâmico, onde a criança possa encontrar respostas à sua imensa vontade de aprender a trabalhar.

Imaginemos móveis e contentores componíveis, fáceis de mover, com rodas, cores uniformes de modo a que tudo seja possível de se modificar, mesas, estantes, painéis para pendurar folhas, por exemplo… Mas para que a escola tenha a sua unidade, de estrutura e de estilo, é sempre necessário um plano racional, uma escolha de design, uma garantia de resistência, funcionalidade e limpeza.

As nossas casas

A nossa casa é o lugar mais frequentado pela criança, é o lugar onde ela vive, e naturalmente para aqueles que vivem na cidade é o local onde brincam a maior parte do tempo.

Todas as casas deveriam ser preparadas e adequadas devidamente para receber uma criança tanto do ponto de vista de segurança como de desenvolvimento. O quarto é efectivamente o lugar onde a criança faz tudo. O seu lugar.
Qual será o quarto ideal para a criança? Para já o ideal é fazê-lo em conjunto com ela, mas certamente não deverá ser um espaço decorado num modo luxuoso com móveis e objetos que ela não possa mudar de lugar. ou que não possa mexer ou sujar.
O projeto de um quarto para crianças deve adequar-se às suas exigências sem nunca esquecer que em breve, elas vão crescer.

Cama multi-funcional. Design de Bruno Munari

 

O seu espaço deverá ser agradável, componível em muitos modos, com objetos leves, de cores claras e vivas, para que a criança possa fazer conjugações, começando assim a educar o seu gosto estético. Os móveis devem crescer com elas sem nunca cansá-las, possibilitando que o espaço de brincadeira seja também um espaço para estudar, seja uma oficina de máquina de desenho, seja um espaço para pequenas actividades desportivas. Concluindo: os móveis para as crianças devem ser criativos, para que elas possam mudar o ambiente, animá-lo e compô-lo.

Cama multi-funcional. Design de Bruno Munari

 

Bruno Munari, o designer mais sensível ao mundo da infância diz-nos que: “uma criança criativa no verdadeiro sentido da palavra, é uma criança feliz porque pode resolver todos os problemas que encontra e pode também ajudar os outros”.