Luis Barragán, Casa em Guadalajara, Jalisco, Mexico
Luis Barragán nasceu em 1902 em Guadalajara no México e estudou inicialmente engenharia para mais tarde se tornar num dos mais importantes arquitetos do século XX.
Entre 1925 e 1927, Barragán viveu em França, Espanha, Marrocos, absorvendo a cultura arquitetónica destes países. Foi em França, na Exposição de Artes Decorativas, que conheceu o poeta, musico e arquiteto Ferdinant Bac, autor dos jardins “Les Colombières” perto de Menton, uma obra que o marcou profundamente.
Barragán assistiu a um debate ideológico intenso, com experiências literárias, artísticas e arquitetónicas que colocaram em causa a continuidade dos modelos do passado. O confronto com a rápida expansão industrial fez com que, a figura do arquiteto / artista fosse posta em causa com as súbitas mudanças nos sistemas de produção. Este período da arquitetura, profundamente conturbado proporcionou um debate entre opiniões opostas, dos que defendiam a autonomia do produto artesanal fiel aos códigos estilísticos do passado e dos que pelo contrário, lutavam pelo produto inovativo ligado à ideia triunfante do progresso.
De regresso ao México, Barragán dedica-se aos negócios da família, liderando atividades agrícolas e projetando algumas casas para amigos em Guadalajara. Trabalha com vários arquitetos, com destaque para Ignacio Diaz Morales com quem, por volta dos anos 20, projeta esta casa “Nogales Station” em Guadalajara.
O estilo arquitetónico romântico de Barragán nesta fase, reflete claramente a estadia na Europa e fundamentalmente em Marrocos. Após a visita a África por volta de 1931, escreve o seguinte: “A visita que realizei a Marrocos foi a que mais me impressionou. Vi edifícios de Casbah no norte do deserto do Sahara em Marrocos e encontrei toda a plasticidade estrutural da paisagem natural, vi como as pessoas vivem, a atmosfera das danças e a maneira como vivem, se vestem, a atmosfera das danças e a maneira como vivem em família”.
A arquitetura desta casa em Guadalajara na segunda metade dos anos 20 não exprime o estilo de Barragán, é uma resposta ao nacionalismo pró-hispânico do governo de Vasconcelos. Rejeita o excesso das aplicações de inspiração andaluza e afasta-se dos moralistas mexicanos, como por exemplo; o pintor José Clemente Orozco.
O estilo de Barragán pelo contrário inspira-se no Folk Mexicano, na utilização de cores brilhantes como o azul, vermelho, verde, amarelo e rosa. Interpreta de forma pessoal o espaço arquietónico contemporâneo e fundamentalmente as artes decorativas europeias.
É nesta fase que Barragán projeta, com 25 anos, a casa em Guadalajara para Efrain Gonzalez Luna. Esta casa mostra a tendência romântica do arquiteto e valores gráficos de referência geométrica, em ferragens e painéis de mosaicos, formas esculpidas ao gosto dos finais dos anos 10 e outros elementos ainda de ecletismo tradicional.
Uma moradia de gosto inovado, dentro de uma tendência mais simplificada, muito gráfica nos pormenores de cantaria e de escultura, de ferragens e de mosaicos, num vocabulário decorativo. O desenho das janelas oferece uma variedade de vistas sobre o luxuriante jardim, mas ao mesmo tempo a refração da luz no interior com desenhos de inspiração islâmica.
1- Alpendre, 2- Entrada, 3- Hall, 4- Biblioteca, 5- Sala de jantar, 6- Sala de estar, 7- Quarto, 8- Quarto de brincar, 9- Terraço, 10- Garagem, 11- Coreto, 12- Cozinha, 13- Quarto empregada, 14- Altar
A disposição interior da casa, com uma grande variedade de ambientes evidencia temas que estarão presentes nas últimas obras de Barragán. A escada por exemplo, com predominância do azul-cobalto, tem uma construção robusta mas sugere ao mesmo tempo requinte, uma caraterística de grande delicadeza no trabalho do arquiteto. Independentemente de estarmos perante uma obra de arquitetura romântica, Barragán oferece-nos uma arquitetura que adota cuidadosamente os materiais selecionados e, coloca-os em confronto com a luz e o espaço.
A casa para Efrain Gonzalez Luna pode ser considerada o ponto de charneira da obra de Barragán. Após a sua edificação, o arquiteto viaja novamente para a Europa e inicia o estudo da arquitetura moderna. Durante este período permanece em Paris e conhece Le Corbusier com quem tem inúmeras lições na escola de arquitetura de Paris. O mesmo acontece com André Lurcat e Mallet-Stevens. Visita também obras modernas na Alemanha, nomeadamente o bairro de Weissenhof Siedlung em Estugarda que o marcou profundamente.
De regresso novamente ao México em 1933, vai viver para a cidade do México e inicia uma nova fase completamente diferente, com o arquiteto Max Cetto. A partir daqui, projeta um numero considerável de casas racionalistas onde mantém as cores brilhantes e a inspiração nos jardins de Ferdinant Bac, uma caraterística que o distingue dos demais arquitetos do movimento moderno.
Em 1980 recebe o prémio Pritzker, o mais importante galardão da arquitetura e escreve: “as minhas casas e jardins proporcionam espaços murados que transmitem calma e silencio e neste silenciosas minhas fontes cantam…”.