Dois homens, uma assinatura. O Design dos Irmãos Bouroullec.
São os nomes mais importantes do design francês depois de Philippe Starck.
Ronan e Erwan Bouroullec, irmãos bretões, dizem que nem tudo foram rosas na aprendizagem do trabalho em equipa, mas que hoje tudo funciona bem. A base de tudo, a criatividade, não se limita à primeira e luminosa ideia. Tudo é discutido. Limado. Pensado e repensado. Para depois vibrar enquanto objeto nas maravilhas técnicas da manufatura.
Os irmãos Bouroullec começaram a trabalhar juntos, em 1997. Ronan tinha 26 anos e Erwan 21. Dois anos depois, a parceria era profissional. É verdade que a dupla emergiu num momento em que a moda, a arquitetura e o design francês recuperavam da perda de brilho sentido nas últimas décadas. Mas a estrela que guia os Bouroullec não vive só dessa feliz coincidência. Reconhecidos, premiados, têm recebido encomendas de todo o mundo. Já expuseram em prestigiados museus, como o Museu de Design em Londres, o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles entre muitos outros. Embora gostem do fascínio e do poder dos múltiplos, assumem claramente o seu trabalho como resultado de um processo artístico, que se encontra por vezes, num território híbrido a meio caminho entre design e arquitetura.
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A formação diferente dos dois irmãos contribui para perspetivas diversas. Ronan estudou design e Erwan artes. Porém, a desorientação que sentiu no meio artístico lavá-lo-ia a trabalhar com o irmão, abrindo-lhes novas perspetivas. A diferença de idades, de formação e até de personalidades contribui para tornar mais fecunda a troca de ideias.
Assim, até chegar ao produto final, há um longo caminho a percorrer, muitos desenhos a esboçar e a abandonar por imperfeitos, muitas técnicas a afinar. A discussão – que referem com frequência – começa e aprofunda-se entre eles. O facto de serem irmãos não torna a comunicação isenta de clivagens. Achada uma ideia, limada, apurada, quando é apresentada à manufatura que a produz já tem um grau de depuração importante. As novas discussões, que logicamente se colocam no passo seguinte, logram a luz ao cabo de algum tempo de maturação e aferição.
O próprio modo como definem o labor do design é esclarecedor. Do processo alquímico inicial, nascente de muitas trocas de ideias, passa-se à experimentação, com o indispensável saber dos técnicos das manufaturas. O resultado é, portanto, assumido como um esforço coletivo, delicado equilíbrio conseguido por uma mágica e dedicada confluência de esforços, a “bem sucedida alquimia de um encontro”, para usar as suas palavras.
Como vários outros designers, eles têm pela industria italiana um apreço especial, pelo gosto do risco e da experimentação. Contudo, isso não exclui o seu interesse por outras aventuras, mesmo as mais clássicas, o processo alquímico tem, portanto, faces diferentes, que assumem apenas a adequação das propostas ao que lhes é encomendado.
Definindo-se principalmente como designers de produtos, as suas peças funcionam com frequência de modo a reinscrever a ordem interior dos espaços, sendo por isso lidas com intervenções de design de interiores.
Lit Clos (casa cama)
Lit Clos (literalmente, cama fechada), é uma estrutura que remete para as casas das árvores e as memórias felizes da infância, transpostas para os espaços modernos, sobretudo os de open-space. Apesar do espanto que causou na sua apresentação na Feira do Móvel em Milão, a casa-cama adapta-se muito bem às necessidades de uma população jovem, tendencialmente dinâmica e quase “nómada”. Ao mesmo tempo, é redimensionada à escala do objeto de design. A leveza e mobilidade dos materiais, as transparências dos módulos, permite repensar e reformular limites sensitivos.
A mesma filosofia de recuperação prática e sonhadora de objetos fê-los criar uma série de propostas fáceis de desmontar, de transportar, acrescentar, diminuir, de usar e reutilizar, como a estante Brick Shelfing, a Cozinha Modular, da Cappellini, as Jarras Combinatórias, ou a linha de escritório Joyn, da Vitra, só para citar alguns.