A mística de Alvar Aalto

“Algo que usamos todos os dias  deve adequar-se ao humano em todos os sentidos”

Alvar Aalto, 1967

Vila Marea, 1939 (Finlândia)

Já passaram mais de 70 anos desde que Alvar Aalto criou as célebres jarras cujas formas onduladas evocam os lagos do seu país. Mas, esta inspiração no seu país natal, estendeu-se também a outras áreas de projeto. Alvar Aalto tinha um conceito englobante da arquitetura, como um modo de viver. Por isso, para além de desenhar edifícios, mobilou-os, iluminou-os e equipou-os dando atenção a todos

Vila Marea, escadas interiores.

Entre a sua vasta produção enquanto designer destacam-se as jarras Savoy e o sofá cama AA1 que desenhou em 1932, atualmente em produção pela marca Italiana MisuraEmme.

Jarra Savoy, Alvar Aalto

Em 1939, Alvar Aalto teve a ideia de criar um jornal semanal intitulado “ O lado Humano”. Teria segundo ele, a distribuição mundial, e nele especialistas internacionais discutiriam temas tão prementes como a construção do humanismo, nesses tempos conturbados. A II Guerra impediria a sua concretização, mas a ideia ficou. Em 2006, a pretexto dos 70 anos da famosa jarra Aalto, a marca finlandesa Iittala retomou a ideia e sugeriu que o debate fosse formal e criativo, em torno das formas ondulantes deste objeto místico.

Estudos das Jarras Savoy, Alvar Aalto

As jarras criadas em 1936 e apresentadas no ano seguinte na Feira Internacional de Paris, com as suas formas fluídas, orgânicas, encantaram pela versatilidade de uso, pelo inesperado. O conceito de design inovador das jarras, humanizado, fez sucesso e ainda hoje espanta pela originalidade e ousadia. A produção continua a ser realizada de acordo com as caraterísticas originais, com a qualidade do vidro manual e um uso especializado da tecnologia.

Modelos atualmente em produção com cores e tamanhos variados.

Porém, para além destas e outras produções da obra de Alvar Aalto, que se mantêm em muitos casos nas mesmas fábricas que originalmente foram escolhidas pelo autor, surgem internacionalmente, da imaginação de vários designers de diferentes nacionalidades, peças tão surpreendentes como as jarras Aalto. A designer japonesa Tamoko Azumi por exemplo, criou um biombo inspirado nas ondas misteriosas da jarra também conhecida por Savoy (por ter sido num hotel desta cadeia que foi usada pela primeira vez). Concebido em papel, o biombo cuja flutuação acentua as linhas recortadas na superfície, transmite-nos um diálogo segundo a autora, entre o Ocidente e Oriente.

Desenhos de Estudo para o Biombo, Tamoko Azumi

Em 2000 Tomoko Azumi e Shin, criaram para a marca Italiana La Palma um banco inspirado nas formas orgânicas de Alvar Aalto que se tornou um ícone internacional. Provavelmente, em muitos bares, restaurantes ou receções um pouco por todo o mundo, é possível apreciar o visual simples, o design minimalista e orgânico do banco Lem.

Banco Lem, editado pela Lapalma

 

A cadeira Finlândia realizada por Nuno Ladeiro para a fábrica Italiana Calligaris é também uma homenagem ao trabalho de Alvar Aalto. Trata-se de uma cadeira “pop-radical” que se evidencia por ter um forte sentido lúdico. Foi inspirada numa cadeira original criada para o famoso projeto do sanatório de Paimio e pode ser usada em ambientes tão distintos como na cozinha, sala de jantar, num bar, numa escola, etc.

Cadeira 406, criada por Alvar Aalto para o sanatório de Paimio em 1929.

Cadeira Finlândia, design de Nuno Ladeiro – Edição Calligaris

Existem diferentes cores para diferentes propostas, o objetivo é ter um uso prático e versátil, no qual o custo baixo é um aspeto determinante. A cadeira é fabricada pela Calligaris em Itália, considerada uma dos mais importantes fabricantes de cadeiras do Mundo.

Sobre Alvar Aalto

Hugo Alvar Henrik Aalto nasceu a 3 de Fevereiro de 1898, em Kuortane. Formaou-se em arquitetura em 1921 pelo Instituto Tecnológico de Helsínquia e em 1923 estabeleceu-se em Jyvaskyla, trabalhando logo a partir de 1924 com Aino Marsio, sua mulher e parceira. Em 1927, muda-se para Turku, onde ficará até 1923, ano em que regressa a Helsínquia. Em 1935 cria a Artek, a firma que se tornaria célebre pela produção de mobiliário e peças de design. Membro e depois presidente (1963 – 68) da Academia Finlandesa, desde 1955, morre a 11 de Maio de 1976, deixando uma obra notável e que é reconhecida em todo o mundo, tanto na arquitetura como no design.