O Desenho ou o Design? O espírito criador de Siza Vieira por Carlos Castanheira

O desenho sai-lhe naturalmente, sempre inquieto, sempre insatisfeito, numa busca constante. Seja um objeto, sofá ou cómoda, tapete, rótulo ou garrafa é do desenho, de inúmeros desenhos que lhe sai sempre. “parece estranho mas é necessária encomenda para despertar o desenho da peça, desafio que é lançado e que como que apanhado de surpresa, reage, como bicho inquieto, perspicaz, que pretende ver para perceber o que foi feito, o que poderá ser alterado, por necessidade, por inconformismo ou mesmo pelo prazer, do desenho e de sempre melhorar”.

Siza Vieira é assim nos projetos, nos pormenores, nas relações pessoais e nos desenhos.

Tapeçaria Linea. Edição Dimensão Nova

Não é um designer a tempo inteiro, mas sim, um desenhador compulsivo, que cria objetos de design, porque procura e estuda os materiais, as existências, as formas e as funções dos objetos. “Ofereceram-lhe, eu vi, estava lá, uma peça em porcelana japonesa de técnica apurada, complexa de simplicidade ou simplicidade complexa, asiática, onde a forma, elegante de frágil, faz perceber que servir saqué é já desenho. Vi-lhe nos olhos, quase fechados mas que tudo veem, a surpresa, a curiosidade e quase a raiva de não poder fazer, também, assim, se possível melhor”.

Por vezes falta tempo a Siza, disponibilidade e desenho, pois são tantos e variados, todos os dias, os desenhos que abrangem tão-somente o desenho como o estudo da função do objeto, ou talvez o design do objeto. “Uma vez fez um desenho, de um candeeiro, eu ajudei no desenho, simples escriba. Tenho de confessar que me parecia quase banal, de forma simples. Foi pensado para iluminar uma exposição de suas obras, de que eu era comissário, na Basílica Palladiana da cidade de Vicenza. Espaço grande, enorme, basilical e multifuncional, à medida do grande arquiteto Andrea Palladio. A lâmpada, candeeiro, teria que funcionar e isso me preocupava. Desenho feito e a obra realizada, não só forma como colocadas no local exercendo a sua função de iluminar, na medida, aquele espaço grandioso de modo a que a exposição fosse montada e então visitada”.

Foi uma surpresa para Carlos Castanheira, que ajudou Siza Vieira e este, transformou os simples desenhos em formas, em função, cor e qualidade. Surpreendido pela proporção, pois não é fácil fazer um candeeiro para um espaço tão especial como a Basílica Palladiana, por não haver a possibilidade de realizar qualquer ensaio nem verificação, Carlos Castanheira confessa “ Os candeeiros estavam lá como sempre estiveram só que nós não os conseguíamos ver. Ele viu. Lorosae foi e é o nome. Tenho de confessar que quando vejo a Lorosae, nas suas várias dimensões, sempre na proporção, em múltiplos locais, isolada ou em grupo, me pergunto; mas é tão simples de quase banal, porque é que gostam tanto deste candeeiro?”